"N ão existe religião na Inglaterra… Se alguém fala sobre religião, todos começam a rir.” ¹

“Um Desrespeito aberto e professo à Religião se tornou… o Caráter peculiar da Era presente… O Cristianismo é ridicularizado e criticado com pouquíssima Reserva: e os Professores dele, sem nenhuma.” ²

“Tornou-se um dado adquirido que o Cristianismo não é mais um assunto de investigação; mas que agora se descobriu amplamente que é fictício. E, portanto, é tratado como se, na era presente, este fosse um ponto de concordância entre todas as pessoas de discernimento, e nada restasse senão colocá-lo como um assunto central de piada e ridicularização.” ³

Estes comentários foram feitos sobre a Inglaterra na década de 1730, no entanto, como eles se aplicam hoje não apenas na Inglaterra e no resto do Reino Unido, mas também em muitas outras nações do Ocidente!

Várias heresias Cristãs estavam na moda entre as classes altas na Inglaterra da década de 1730, como o Arianismo, o Pelagianismo e o Socinianismo. Outras pessoas colocavam a natureza em um pedestal, como uma religião, enquanto qualquer coisa que tivesse a ver com o próprio Cristo era rejeitada. Muitos clérigos conheciam pouco da Bíblia, e as pessoas comuns se entregavam a todo tipo de vício, em grande parte desconhecendo que o que estavam fazendo era pecaminoso aos olhos de Deus.  

O Reavivamento Evangélico

Alguns líderes Cristãos viram o que estava acontecendo e clamaram com angústia de espírito. No entanto, a Igreja permaneceu à beira de um precipício até que John Wesley e seus associados começaram seu ministério, exortando as pessoas por todo o país a lerem a Bíblia e a se reunirem para orar.

O que se seguiu ficou conhecido como o Reavivamento Evangélico, frequentemente datado (no que diz respeito à Inglaterra) da própria conversão de Wesley, em 1738, e que se estima que tenha continuado até cerca de 1815. ⁴ A fé pessoal prosperou. A verdade do Evangelho foi ensinada nas igrejas e se tornou amplamente conhecida e crida. 

E o efeito desse reavivamento na sociedade em geral? Embora muitas de suas práticas pecaminosas tenham continuado, houve um movimento gradual em direção à valorização da virtude novamente. Uma atitude temente a Deus e devota se tornou mais aceitável de modo geral. No entanto, o próprio John Wesley, em um artigo publicado em 1782, escreveu:

Qual é a característica atual da nação Inglesa? É a impiedade... Por impiedade quero dizer, primeiro, uma total ignorância de Deus; segundo, um total desprezo por ele. ⁵

Evangelicalismo no Ocidente hoje

O que resta do Reavivamento Evangélico hoje?

Uma pesquisa realizada em 2022 pelos Ministérios Ligonier e LifeWay Research descobriu que muitos Cristãos evangélicos Americanos tinham crenças não Bíblicas, mesmo heréticas, especialmente sobre a natureza de Deus. 

73% concordaram com a afirmação de que Jesus é o “primeiro e maior ser criado por Deus”.

55% acreditavam que o Espírito Santo é uma força, mas não um ser pessoal.

44% disseram que Jesus era um grande mestre, mas que não era Deus.

38% consideraram que “a crença religiosa é uma questão de opinião pessoal; não se trata de verdade objetiva”. ⁶

Uma pesquisa separada, também realizada nos EUA em 2022, mas desta vez pelo Centro de Pesquisa Cultural da Universidade Cristã do Arizona, examinou as crenças dos pastores. Entre os pastores evangélicos entrevistados:

39% consideraram que não há verdade moral absoluta e que “cada indivíduo deve determinar sua própria verdade”.

37% disseram que ter fé em geral é mais importante do que a questão de em quê ou em Quem essa fé é colocada. 

30% não concordaram que sua salvação se baseava apenas em ter confessado seus pecados e aceitado Jesus Cristo como seu Salvador. ⁷

É evidente que a Igreja no Ocidente está mais uma vez à beira da destruição. Mas o que aconteceu para que ela chegasse lá?

O processo de descristianização

O teólogo e estudioso Britânico C.S. Lewis, falando em 1954, descreveu uma “Grande Divisão”, que ele considerava “a maior de todas as divisões da história”, que começou a se formar em meados do século XIX, separando a era Cristã dos 18 séculos anteriores da era pós-Cristã. O processo de descristianização da sociedade Ocidental podia ser visto, disse ele, na política, nas artes, na religião e na tecnologia, e o abismo continuava a aumentar. ⁸

O contemporâneo quase exato de Lewis, o pregador e estudioso americano A.W. Tozer (1897-1963), escreveu: 

Vejo chegar o tempo em que todos os homens santos, cujos olhos foram abertos pelo Espírito Santo, desertarão um a um do Evangelicalismo do mundo. A casa será deixada desolada e não haverá um homem de Deus, um homem em quem o Espírito Santo habita, deixado entre eles. ⁹

Tozer disse que gostaria de viver para ver o tempo em que Cristãos santos e espiritualmente iluminados se afastassem do navio do evangelicalismo que se afundava e construíssem uma “nova arca para enfrentar a tempestade”. 

Um vórtice que está nos puxando para a destruição

Agora, na década de 2020, estamos em um estágio em que o Cristianismo no Reino Unido e em grande parte do Ocidente é mais uma vez motivo de chacota, como era na Inglaterra dos anos de 1730. Isto se deve em parte aos fracassos e à corrupção de seus próprios líderes e em parte à arrogância dos líderes da sociedade, dois fatores que talvez se intensifiquem mutuamente em um círculo vicioso. 

Com a perda da autoridade da Igreja, a estrutura moral que antes sustentava a sociedade Ocidental se foi, seus sistemas de valores entraram em colapso e a noção de verdade absoluta é amplamente rejeitada. Os Ocidentais se afastaram amplamente de Deus, vendo-O como irrelevante e desnecessário para sua felicidade e realização. Nesta visão, a humanidade amadureceu e se tornou mestre de seu próprio destino, não tendo mais necessidade de nenhum Ser sobrenatural. 

No entanto, vemos que a natureza parece ter se voltado contra a humanidade, enquanto os seres humanos se voltaram contra os semelhantes. Estamos presos em um vórtice que nos puxa para baixo, para a destruição. Deus diz: “O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda” (Provérbios 16.18). Assim, o orgulho humano será a nossa ruína. A Igreja no Ocidente, tão favorecida por Deus por muitos séculos, pode agora sentir Sua ira e estar prestes a receber o Seu julgamento. 

“A extremidade do homem é a oportunidade de Deus”

Se Deus abandonasse o Ocidente agora, como poderíamos reclamar, tendo em vista que O afastamos desdenhosamente tantas vezes, tão publicamente e tão descaradamente? Mas não nos desesperemos. Já foi dito que “a extremidade do homem é a oportunidade de Deus”. O desafio que Wesley e seus associados enfrentaram no século XVIII deve ter parecido tão grande quanto o desafio que enfrentamos hoje. E se aplicarmos novamente o mesmo remédio? Arrependimento, oração e estudo da Bíblia foram os canais que Deus em Sua misericórdia usou no século XVIII para trazer a Inglaterra de volta da beira do abismo. Talvez Ele os use novamente. 

George Barna, Diretor de Pesquisa do Centro de Pesquisa Cultural, observou que seus dados da pesquisa mostraram que as crenças dos pastores estavam correlacionadas com suas rotinas espirituais. Os pastores que tinham mais crenças Bíblicas tendiam a ser aqueles que seguiam uma rotina diária consistente de leitura da Bíblia, oração, adoração e confissão.

Deus ainda poderia revisitar Seu povo no Ocidente. Mas devemos nos arrepender e orar novamente por Sua misericórdia, lembrando que não existe uma nação Cristã e que não podemos presumir sobre Sua graça. Não podemos olhar para a grandeza, as glórias e os triunfos do passado do Ocidente e assumir que é nosso direito sermos abençoados desta forma novamente. 

“Aqueles que temiam ao Senhor falavam uns com os outros”

O profeta Malaquias descreve uma sociedade em que as pessoas ainda praticavam o culto religioso organizado, mas sem entusiasmo, oferecendo a Ele seus animais aleijados e doentes (Malaquias 1). Eles consideravam que a luta para servir a Deus era inútil, visto que os malfeitores estavam visivelmente prosperando (Malaquias 3.8-16). Mas alguns naquela sociedade ainda amavam a Deus e honravam Seus mandamentos; eles devem ter ficado muito angustiados com o que estava acontecendo ao seu redor. Vamos ler nas palavras de Malaquias o que aquele remanescente fiel fez, o que Deus fez em resposta e o que Ele os prometeu para o futuro:  

Depois aqueles que temiam ao Senhor conversaram uns com os outros, e o Senhor os ouviu com atenção. Foi escrito um livro como memorial na sua presença acerca dos que temiam ao Senhor e honravam o seu nome. “No dia em que eu agir”, diz o Senhor dos Exércitos, “eles serão o meu tesouro pessoal. Eu terei compaixão deles como um pai tem compaixão do filho que lhe obedece. Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não servem. (Malaquias 3.16-18)

Mesmo que sejamos os únicos em nossa família, igreja ou cidade lendo a Bíblia e orando humildemente a Jesus, Ele irá notar e ouvir. Mas, se pudermos, vamos nos reunir com outros que pensam da mesma maneira para juntos falarmos, orarmos e estudarmos as Escrituras, ajudando assim uns aos outros a permanecer fiéis ao Senhor. 

“Tu és meu e eu sou Teu”

Wesley conseguiu transformar as festas de bebedeiras dos mineiros de carvão de Bristol a cada 31 de dezembro no culto de adoração “noite de vigília”, com o qual os Metodistas começam o ano novo. Além disso, em 1755 ele iniciou o costume de “Renovar o Pacto” no primeiro domingo do ano, quando os crentes reafirmam solenemente seu compromisso com o Senhor. A Oração do Pacto Metodista, que agora muitas outras igrejas adotaram, é conduzida:  

Eu não sou mais meu, mas Teu.
Coloca-me onde Tu quiseres,
com quem Tu quiseres,
coloca-me  para trabalhar,
coloca-me para sofrer;
permita-me ser usado por Ti,
ou colocado de lado por Ti ,
exaltado por Ti,
ou humilhado por Ti;
permita-me estar cheio,
permita-me estar vazio,
permita-me ter todas as coisas,
permita-me não ter nada:
Livre e sinceramente eu entrego todas as coisas
ao seu agrado e disposição.
E agora, glorioso e bendito Deus,
Pai, Filho e Espírito Santo,
Tu és meu e eu sou Teu. Assim seja.
E que este pacto agora feito na terra,
seja ratificado no céu .

Portanto, com o início de 2023, que cada um de nós se comprometa novamente com o Senhor e decida fazer do novo ano um ano em que damos prioridade à oração e ao estudo da Bíblia, caminhando humildemente com nosso Deus e pedindo a Ele

Senhor, ouvi falar da tua fama;
tremo diante dos teus atos, Senhor.
Realiza de novo, em nossa época,
as mesmas obras.
faze-as conhecidas em nosso tempo;                                        Em tua ira, lembra-te da misericórdia.
(Habacuque 3.2)

 

Dr Patrick Sookhdeo
Diretor International do Ajuda Barnabas

 

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A Nova Religião Cívica (2016) e A Morte do
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